Biocombustíveis: problema ou solução?
FONTE: Universidade Metodista de São Paulo

Recentemente a Organização das Nações Unidas (ONU) veio a público declarar estado de “emergência global” por conta da alta nos preços dos alimentos. A entidade afirma que o estoque mundial é o menor em trinta anos e que a inflação, resultante da elevação dos preços neste setor, deve durar até 2010 – situação que só tende a piorar. Frente a esta realidade soa o alarme da crise alimentar e da fome.
O debate que se iniciou a partir daí para buscar possíveis culpados para essa escassez de alimentos está longe de terminar. Entre os principais fatores que influenciam a alta dos preços estão o aumento da demanda, a alta do petróleo e condições climáticas desfavoráveis. Mas a principal polêmica está na dimensão da responsabilidade dos biocombustíveis para a crise, já que suas matérias- primas, como cana-de-açucar, milho e soja, disputam espaço com culturas destinadas à produção de comida em muitos países.
Em um debate no qual segurança alimentar e proteção ambiental se misturam, até mesmo organizações internacionais vieram a público dar sua opinião. O Banco Mundial e o FMI acusaram os agrocombustíveis de contribuírem para quase metade do aumento da procura alimentar, o que afeta o preço de um conjunto de matérias-primas. O economista Sérgio Schlesinger, especialista na área de agricultura e autor do livro “O grão que cresceu demais: a soja e seus impactos sobre a sociedade e o meio ambiente”, concorda com a preocupação da ONU. “Há substituição de culturas alimentares por biocombustível. No Brasil este processo ainda está no início, mas nos EUA já há redução no plantio de soja, por exemplo, que perde espaço para o milho destinado à produção de etanol. Isso leva ao aumento do preço do milho e da soja usados para alimentação e, conseqüentemente, aumenta-se o preço da carne e dos laticínios. Ou seja, começa uma reação em cadeia”.
O suíço Jean Ziegler, relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, declarou em entrevista a uma rádio alemã que a produção em massa de biocombustíveis representa um crime contra a humanidade por seu impacto nos preços dos alimentos em esfera global. Sérgio Schlesinger acredita que essa afirmação seja um tanto quanto radical, mas ainda assim concorda com o suíço. “Existem milhões de pessoas no mundo passando fome. Priorizar combustíveis e automóveis, entre outros veículos, e não priorizar alimentos é realmente um crime”. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, não gostou da declaração do relator. Sem citá-lo, o presidente afirmou, “Vejo com desolação que muitos dos que responsabilizam o etanol – inclusive o etanol da cana-de-açúcar – pelo alto preço dos alimentos são os mesmos que há décadas mantêm políticas protecionistas, em prejuízo dos agricultores dos paísesmais pobres e dos consumidores de todo o mundo".
É fato que os biocombustíveis, entre eles o etanol e o biodiesel brasileiros, são fonte de energia mais limpa, com capacidade de renovação e economicamente mais viáveis. No entanto, é preciso achar um meio-termo para a sua produção e, assim, amenizar essa polêmica. Como lembra Sérgio Schlesinger, uma série de fatores contribuiu para o aumento dos preços no setor alimentício e é a soma de todos eles que leva a atual situação de crise alimentar. “O fato é que o estoque de alimentos está caindo. Muito do que se disse até agora com relação aos biocombustíveis é especulação. Entretanto, como toda especulação, tem fundamento”, acredita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário